quinta-feira, 27 de março de 2014

SELEUCO II CALÍNICO (246 – 225 a.C.) - PARTE II

O Contra-Ataque de Seleuco II
Vendo se desmantelar o império que seus antecessores arduamente lhe legaram, Seleuco II começa a reagir ofensivamente para reaver e defender seus territórios na Síria e adjacências. No verão de 245 ele atravessa o Tauro. A cidade de Esmirna, que permanecera fiel a Seleuco II ressitindo aos ataques egípcios, foi recompensada com o status de cidade santa e inviolável por ter o templo de Afrodite Estratonice. Seleuco II escreveu a vários Estados e Ligas do mundo helênico, incluindo o oráculo de Delfos, para garantir essa posição para a cidade. A cidade de Magnésia do Síplio, onde uma guarnição se rebelara contra Seleuco II, foi posteriormente colocada sob o domínio de Esmirna. O ataque selêucida e a derrota da frota egípcia em Andros para Antígono II, obrigam Ptolomeu III a voltar-se para o Ocidente. O faraó deixa Xantipo governando sua possessões na Babilônia e um certo Antíoco governando suas possessões ao longo da costa do Mar Egeu e volta para Egito onde problemas internos requerem seu retorno com urgência. Embora a Báctria e a Pártia continuem independentes, Seleuco II consegue reaver a Babilônia. As vitórias de Seleuco II sobre Ptolomeu III fazem com que ele seja chamado pelo epíteto grego de kallinicos, isto é, o de bela vitória, grande vitorioso, triunfante. Porém, a tradicional cidade selêucida de Selêucia em Piéria permaneceu nas mãos dos egípcios.
Moeda do reinado de Seleuco II cunhada em Nisibis, norte da Mesopotâmia, com a efígie dos deuses gêmeos Castor e Polux, possível alusão aos irmãos régios Seleuco II e Antíoco Hierax, e um elefante de guerra, símbolo de poder militar
No entanto, os acontecimentos seguintes não confirmariam a grandeza de sua vitória: Em 244 a.C. Seleuco II enviou uma frota para punir as cidades da costa da Síria que tinham aderido a causa de Ptolomeu III. Porém, uma tempestade destruiu a frota e o rei e poucos náufragos sobreviveram. Entretanto, diante da tragédia do rei, as cidades rebeldes resolveram mudar de atitude e voltaram a se unir aos Selêucidas. No ano seguinte nasce seu primogênito Alexandre (futuro Seleuco III). Em 242 Seleuco consegue livrar as cidades sírias de Damasco e Ortósia do cerco das forças ptolomaicas. Entre 242 e 241, Seleuco ataca as terras ptolomaicas na Palestina:, mas suas forças são derrotadas e retiram-se para Antioquia. Seleuco II faz de Antioquia da Síria sua capital e ainda controla parte da Ásia Menor, o norte da Síria, a Mesopotâmia e o Irã. A Báctria segue independente com Diodoto I e a Pártia com Andrágoras. A Média Atropatene também goza de relativa independência. Não obstante, Seleuco II funda a cidade de Calínico na Mesopotâmia. Mas Ptolomeu III é ainda uma ameaça e Seleuco II não pode enfrentá-lo sozinho; além do apoio de Antígono II da Macedônia, que contesta a influência egípcia no Mar Egeu e na Grécia, ele precisa do apoio de seu irmão: Antíoco Hierax, o vice-rei selêucida em Sardes.

O Fim da Terceira Guerra Síria
Seleuco II enviou uma carta a seu irmão, em Sardes para que ele reunisse um exército, cruzasse o Tauro e viesse em seu auxílio contra Ptolomeu III. Em recompensa, Seleuco II cederia as terras selêucidas além do Tauro na Ásia Menor como um reino independente. Fontes documentais indicam que Antíoco, embora com quatorze anos, já era tratado pelo título de rei, embora subordinado a Seleuco II, antes dessa ocasião. Quem de fato tem as rédeas em Sardes é Laodice e seus asseclas, mas o jovem Antíoco é ambicioso demais para perder essa oportunidade. Foi apelidado de hierax, palavra grega que significa falcão, devido a voracidade de sua ambição. A corte em Sardes se mobiliza para enviar auxílio a Seleuco II. Temendo enfrentar dois rivais de uma única vez e ainda envolvido com ações na Grécia, Ptolomeu III resolve fazer uma trégua de 10 anos com Seleuco II pondo fim assim a Terceira Guerra Síria (241 a.C.). No ano seguinte, uma embaixada de Roma vai a corte de Ptolomeu III oferecer ajuda contra Seleuco II. O faraó agradece, mas recusa o auxílio já que o conflito estava encerrado. Ao que parece,  havendo paz com o Egito, a realeza de Antíoco Hierax não foi confirmada por Seleuco II que procura manter boas relações com as cidades da Ásia Menor, onde governa seu irmão: ele escreve a Mileto, que administra o santuário de Apolo em Dídima (onde Seleuco I Nicátor teria recebido a revelação de que ele seria rei da Ásia) e recebe a resposta favorável do oráculo de Delfos em relação a status sagrado de Esmirna. Apesar da troca de lealdades entre  Selêucidas e a Ásia Menor, Ptolomeu III controla parte da costa da Anatólia (Cilícia e Panfília) e detém a ilha de Samos e a cidade de Éfeso.
Moeda com a efígie de Seleuco II e um cavalo de batalha 


A Guerra dos Irmãos
Estabelecida a trégua com o Egito, o Império Selêucida tem que lidar com uma guerra civil onde os irmãos Seleuco II e Antíoco Hierax disputam o trono selêucida. Antíoco, instigado por sua mãe Laodice e pelo irmão desta, Alexandre, governador de Sardes, se rebela contra seu irmão e afirma sua realeza independente sobre as terras selêucidas da Ásia Menor, embora sua ambição pretenda governar todo Império Selêucida. A posição de Hierax estava bem fortalecida na Ásia Menor. Assim no ano de 240 a.C. estoura a chamada Guerra dos Irmãos ou Guerra Fraternal. Antíoco contrata os temidos mercenários gálatas. Seleuco II reúne um exército atravessa o Tauro de derrota seu irmão duas vezes na Lídia, mas não consegue tomar Sardes. Nesse período (239 a.C.) é registrada uma carta de Seleuco a certo Olímpico, estratego da Cária, sobre o santuário de Zeus em Labraunda. Apesar da vitória inicial, o apoio dos reinos da Ásia era mais favorável à causa de Antíoco Hierax. Mitrídates II, rei do Ponto e casado com Laodice, tia de ambos os reis, se junta a Hierax com um exército de gálatas.
O Mundo Helenísitco em 240 a.C.
Uma grande batalha se deu em 239 nos campos de Ancira onde Seleuco II e seu exército foram terrivelmente derrotados pelas forças gálatas. Fontes indicam cerca de 20.000 mortos. Entre os tombados, não acharam o corpo de Seleuco II. Antíoco, não obstante estar diante da possibilidade de ser o único rei selêucida, foi tomado de grande tristeza e colocou traje de luto e lamentou a morte de seu irmão. Mas logo, veio a notícia de que Seleuco ainda estava vivo. Ele havia se disfarçado como o escudeiro de Hamaction, que comandou o esquadrão real, e conseguiu escapar levando a coroa nas mãos. A jornada de Seleuco e seus companheiros através da cordilheira do Tauro não foi fácil. Começaram a se desesperar por causa da falta de comida e dos perigos da região. Encontrando uma fazenda na região, Seleuco II pediu alimento sem se dar a conhecer. O proprietário alimentou-os e deu-lhes uma festiva acolhida reconhecendo no hóspede o rei selêucida sem, entretanto, anunciar sua descoberta. Ao partirem, o proprietário acompanhou-os até a estrada e querendo mostrar que sabia quem era seu hóspede para que não fosse esquecida sua prestação de serviços, o proprietário disse: "Vá bem, rei Seleuco". Seleuco II se aproximou dele como se fosse beijá-lo e fez um sinal para um de seus companheiros para matar o homem que teve na hora sua cabeça cortada. Plutarco, que narra esse episódio, diz que se o homem tivesse ficado calado teria tido a sua recompensa quando da restauração do poder de Seleuco II. 
Os montes Tauros (na Turquia), por onde Seleuco II e poucos homens passaram após a derrota em Ancira.
Seleuco II estava agora além dos Montes Tauro, na Cilícia, refazendo suas forças. Mysta, concubina de Seleuco II que estava presente na batalha, se desfizera de seus trajes nobres, vestiu-se como uma serviçal e foi vendida como escrava para a ilha de Rodes. Identificando-se como concubina de Seleuco II, os magistrados da cidade a compraram do mercador e a reenviaram para Seleuco II com toda dignidade. Os rodianos e Seleuco II tinham laços de amizade. O vitorioso Antíoco Hierax, entretanto, se viu ameaçado pelos mercenários gálatas (que derrubando mais um rei poderiam ser mais livres na Ásia) e com uma série de pilhagens sacia-lhes a sede de riquezas. Submeteu a Frígia e enviou homens para combater seu irmão com a ajuda de Ptolomeu III. Nesse tempo Antíoco Hierax casa-se com a filha de Ziaelas, rei da Bitínia e exercendo plenamente sua realeza passa a cunhar moedas com sua efígie. 
Moeda com a efígie de Antíoco Hierax e a representação do deus Apolo
No entanto, o sucesso de Hierax é refreado pelo poder crescente de Pérgamo, cidade independente governada pelos Atálidas, mas nominalmente sujeita aos Selêucidas. Seu jovem governante, Átalo I, vence uma incursão de gálatas e assume definitivamente o título de rei. Seleuco II, embora não reconheça nem a realeza de seu irmão nem a de Átalo, tem que dedicar sua atenção nos territórios aonde efetivamente governa. Após a batalha de Ancira, com o rei selêucida mais velho recuando através do Tauro, e o mais jovem se portando como um capitão de saqueadores, a autoridade selêucida deixou a desejar na Ásia Menor. Nas partes da região que outrora obedeciam os mandatos de Sardes ou de Antioquia, agora os exércitos de Átalo é que marcharam ao longo das estradas, e seus oficiais que começam a angariar os tributos das populações da região. o reino de Pérgamo se projeta como o novo guardião do helenismo na Ásia Menor
Átalo I Sóter, rei de Pérgamo que desafiou a
soberania selêucida na Ásia Menor

A Sedição de Estratonice e a Morte de Laodice
Estratonice (II), irmã de Seleuco II, era casada com o Demétrio II Etólico, rei da Macedônia, que a repudiou para se casar com Ftia, princesa do Épiro (238 a.C.). Estratonice deixou a corte macedônica e foi para a corte de seu irmão em Antioquia onde propôs a Seleuco II que se casasse com ela e a fizesse rainha como sucedia na corte ptolomaica no Egito, onde os monarcas se casavam com suas irmãs. Laodice II, esposa de Seleuco, provavelmente já morrera e o rei vivia amasiado com sua amante Mysta. Seleuco II recusou a proposta de Estratonice. Enquanto o rei estava na Babilônia recrutando um exército e sufocando algumas rebeliões, Estratonice começou a fomentar uma rebelião em Antioquia. Quando Seleuco II retornou e retomou Antioquia, Estratonice fugiu para Selêucia em Piéria (que pertencia ao Egito) de onde pretendia fugir pelo mar, mas foi capturada e morta. Sua mãe, Laodice (I), a rainha temível que lançara o Império Selêucida no caos com suas intrigas e assassinatos parece ter morrido por volta de 237. As circunstâncias de sua morte são desconhecidas, mas o historiador romano Apiano, no seu relato sobre as guerras sírias, informar brevemente que Laodice foi morta por Ptolomeu III. O relato de Apiano induz a pensar que isso aconteceu quando Ptolomeu III tomou Antioquia (245 a.C.). O fato é que Laodice, além de estar em Éfeso na época, continuou muito ativa após esse período. Apiano pode ter simplesmente encurtado a narrativa para mencionar que a morte de Laodice teve alguma participação de Ptolomeu III  que dominava a cidade de Éfeso não longe de Sardes onde vivia Laodice. Mas não se sabe ao certo da data e o modo como morreu Laodice I.
Moeda com as imagens de Antioco Hierax e Apolo cunhada em Sardes, a capital selêucida do reino
do norte onde vivia Laodice que fez de seus dois filhos reis e depois jogou um contra o outro

FONTES:
http://en.wikipedia.org/wiki/Seleucus_II_Callinicus
http://www.attalus.org/translate/polyaenus8B.html#50.1
http://www.cristoraul.com/ENGLISH/readinghall/GalleryofHistory/House-of-Seleucus/Chapter-10-SELEUCUS-II_AND_SELEUCUS-III.html
http://www.forumromanum.org/literature/eutropius/trans3.html#1
http://www.livius.org/be-bm/berenice/berenice_phernephorus.html
http://www.antikforever.com/Syrie-Palestine/main_palest.htm
http://www.livius.org/cg-cm/chronicles/bchp-ptolemy_iii/bchp_ptolemy_iii_02.html#Commentary
http://www.attalus.org/old/athenaeus13c.html#593
http://www.livius.org/cg-cm/chronicles/bchp-ptolemy_iii/bchp_ptolemy_iii_related_texts.html
http://lexundria.com/j_ap/1.206/wst
http://lexundria.com/j_ap/1.207/wst
http://www.cais-soas.com/CAIS/History/ashkanian/arsacids_beginnings.htm
http://www.livius.org/pan-paz/parni/parni.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Andr%C3%A1goras
http://www.wildwinds.com/coins/greece/seleucia/seleukos_II/SC_702v.jpg
http://www.wildwinds.com/coins/greece/baktria/kings/diodotos_I//SC_629.jpg
http://www.polyvore.com/laodice/thing?id=42001378
http://en.wikipedia.org/wiki/Ptolemy_III_Euergetes
http://osreisdamacedonia.blogspot.com.br/2010/11/antigono-ii-gonatas-segundo-reinado-272.html
http://www.historyandcivilization.com/Maps---Tables---Alexander-the-Great---the-Hellenistic-World.html
http://www.livius.org/a/1/mesopotamia/BCHP_ptolemy_iii_BM_34428obv.jpg
http://penelope.uchicago.edu/Thayer/E/Roman/Texts/Plutarch/Moralia/De_garrulitate*.html#ref86
http://www.dreamstime.com/stock-image-taurus-mountains-image23632241
https://ore.exeter.ac.uk/repository/bitstream/handle/10036/95348/EricksonKG.pdf?sequence=2

Nenhum comentário:

Postar um comentário