terça-feira, 4 de março de 2014

ANTÍOCO II TEOS (261 – 246 a.C.)

Antíoco II Teos (286-246 a.C.) foi o terceiro rei do Império Selêucida que governou entre 261 e 246 a.C. Nascido em 286, Antíoco II era o segundo filho de Antíoco I Sóter e de Estratonice. Seus irmãos eram Seleuco, Laodice, Apame II e Estratonice III. Seguindo a tradição aquemênida e a de seu pai, Seleuco I, Antíoco I reparte o governo do Império Selêucida com seu primogênito Seleuco. Porém, em 268 Antíoco I manda matar seu príncipe-herdeiro por causa de indícios de traição e por volta de 266 eleva Antíoco II a posição de cogovernante do Império Selêucida, administrando a porção oriental. Antíoco II casou-se com Laodice (I), filha de Aqueu. Debate-se se Aqueu era o filho de Seleuco I Nicátor e, portanto ela seria prima de Antíoco II, ou se Aqueu era simplesmente um poderoso homem da Ásia Menor. Polieno e Eusébio, em suas obras clássicas, afirmam que Laodice era uma filha de Antíoco I Sóter com outra mulher  e assim ela e Antíoco II eram irmãos por parte de pai. Da união nasceram Seleuco II, Antíoco Hierax, Estratonice II, Laodice e Apame. Em 261, Antíoco I morre em combate aos gálatas e Antíoco II assume o trono com cerca de 24 anos. No entanto, o jovem rei não se volta para os gálatas ou os reinos independentes da Ásia Menor (Capadócia, Bitínia, Pérgamo, Ponto) que seu avô e seu pai tentaram submeter. Não demorou muito para que Antíoco II, respirando vingança, segundo Jonas Lendering, retomasse a guerra de seu pai com o Egito ptolomaico pelas suas terras na Ásia Menor e principalmente da Síria.
Moeda com a efígie do rei Antíoco II Teos e a imagem do deus Apolo

A Segunda Guerra Síria (260 – 253 a.C.)
Desde 301 os reis selêucidas reivindicavam a posse da Cele-Síria (região ao sul da Síria que compreendia o vale e a costa do Líbano e a Palestina) que fora tomada pelos Lágidas (dinastia dos Ptolomeus do Egito). Antíoco I e o rei egípcio Ptolomeu II se enfrentaram na Guerra Cariana (280 – 279) e na Primeira Guerra Síria (274-271), mas região disputada permaneceu de posse do Egito. Ptolomeu II interferia intensamente nos assuntos gregos financiando rebeliões contra o rei macedônio Antígono II Gônatas, cunhado de Antíoco II. Os dois reis se aliaram para enfrentar o Egito. Com o apoio da Macedônia, Antíoco II lançou um ataque contra os postos avançados de Ptolomeu II na Ásia alcançando vários sucessos na região. Porém, Eumenes I de Pérgamo se alia a Ptolomeu II e o ajuda a fazer frente as forças selêucidas. Em 259, o filho de Ptolomeu II que governa a cidade de Éfeso, conhecido como Ptolomeu, o Filho, se rebela contra seu pai e governa a cidade de modo independente. Da mesma forma, o tirano Timarco, governa a cidade de Mileto não reconhecendo a soberania nem de Selêucidas nem de Lágidas. Em 258 Antíoco II derrubou Timarco e libertou Mileto. Os habitantes o saúdam como “divino” e lhe dão o epíteto de theos (“deus” em grego) pelo qual também passa a ser conhecido.
Moeda do reinado de Antíoco Teos com a efígie de Apolo, patrono da dinastia selêucida.
Em Éfeso, os guardas trácios de Ptolomeu, o Filho, temendo a ofensiva selêucida se amotinam. O tirano e sua amante Irene se refugiam no templo de Ártemis, mas os trácios profanam o lugar sagrado e matam os dois. Éfeso passa novamente ao Império Selêucida. Possivelmente no mesmo ano Antígono II derrota a frota de Ptolomeu II comandado por Pátrocles próximo a ilha de Cós. A batalha de Cós marca o declínio do poderio egípcio sobre o Mar Egeu. Porém, as rebeliões de Corinto e da Cálcida contra o governo macedônico levam a Antígono II abandonar as hostilidade contra Ptolomeu que provavelmente financia essas revoltas. Em 254 o Egito e a Macedônia selam um tratado de paz. Nesse ínterim, Antíoco II escreve a cidade de Eritreia assegurando-lhe seu favor e autonomia e pede contribuição para um certo “fundo gálico” (pagamento de mercenários gálatas? Pagamento aos gálatas para que não ataquem os territórios selêucidas?). Com a Macedônia fora do conflito, diante do impasse em novas conquistas e problemas internos, Selêucidas e Lágidas procuram se entender.

Novo Acordo, Novo Casamento
Em 253 a.C. Antíoco II Teos e Ptolomeu II Filadelfo firmam um tratado de paz onde o Ptolomeu II reconhece os ganhos territoriais do Império Selêucida e em compensação Antíoco II deve se casar com sua filha Berenice (conhecida também como Berenice Sira). Ptoloemeu II enviou sua filha a cidade egípcia de Pelúsio de onde partiu para a corte selêucida com grande quantidade de ouro e prata o que fez com que fosse pelidada de Berenice Fernoforo (‘a que traz o dote’). Os filhos dessa nova união devem ser os herdeiros do trono selêucida. Antíoco II, portanto, se divorcia de Laodice e afasta seus filhos da linha de sucessão. Embora Damasco, a Cilícia e a Panfília tenham repassado para os domínios selêucidas, a principal causa da rivalidade, a posse da Cele-Síria, continuava nas mãos do Egito. Embora já não fosse rainha, Laodice ainda era uma figura política influente e muito poderosa. Ela era neta de Seleuco I, fundador do Império, e seu pai, Aqueu, era um homem rico e poderoso na Ásia Menor. Em seu acordo de divórcio, Antíoco II deu a Laodice várias concessões de terras em toda a Anatólia incluindo uma grande propriedade no Helesponto, outras propriedades perto de Cízico, Ílion e na Cária.
Moeda com as efígies dos reis do Egito Ptolomeu II
e Arsínoe II, sogros de Antíoco  II Teos
Em um registro real de Sardes se menciona seus títulos de terra. Antíoco II deu-lhe vários privilégios na administração de suas terras, inclusive isenção fiscal. Laodice fixou residência em Éfeso. Consta, todavia, o registro de que em 246 seus filhos, Seleuco, Antíoco e Apame participam de uma cerimônia religiosa na Babilônia onde Antíoco II também havia dado uma propriedade a Laodice. O casamento amenizou as tensões entre os dois reis. É registrado de que um médico da corte egípcia, Cleombroto de Ceos, tratou pessoalmente de Antíoco II (c. 246 a.C.) e que o faraó enviou barris com água do rio Nilo para Berenice, certamente por causa de suas supostas propriedades fertilizadoras. Da união de Antíoco com Berenice nasceu um filho, Antíoco (251 a.C.).

Renovando Alianças
Memnôn de Heracleia registra que houve um conflito entre Antíoco II e a cidade de Bizâncio, a qual contou com o apio de Heracleia Pôntica (251 a.C.). Mas, não chegou haver confrontos bélicos. Em 250 Selêucidas e Antigônidas renovam sua aliança: Antíoco II casa sua filha Estratonice II com Demétrio II Etólico, filho de Antígono II e futuro rei da Macedônia. Nessa ocasião Ariarates III foi o primeiro governante da Capadócia a proclamar-se rei oficializando assim a independência desse país. Aliás desde 257 Ariarates III era casado com uma irmã de Antíoco II, Estratonice (III). 
Rei Ariarates III da Capadócia, cunhado de Antíoco Teos

Relações Internacionais
As relações internacionais de Antíoco II não se limitaram ao Egito e à Macedônia. As fontes mostram que Antíoco II dedicou atenção a pequenas cidades da Trácia bem como com reinos poderosos no continente indiano. Antíoco II é mencionado nos Editais de Ashoka como um dos destinatários do proselitismo budista promovido pelo imperador indiano Ashoka, embora nenhum registro histórico ocidental deste evento tenha sido encontrado: "E mesmo esta conquista [pregar o budismo] foi conseguida pelo Amado dos Deuses aqui e em todas as fronteiras, tanto quanto seiscentos yojanas (entre 5.400-9.600 km) de distância, onde Antíoco, [II] rei dos Yavanas [gregos] governa, e além de Antíoco, quatro reis chamados Ptolomeu [II do Egito] , Antígono [II da Macedônia], Magas [de Cirene] e Alexandre [II do Épiro] governam.." 
A expansão do budismo nos dias de Ashoka
Ashoka também afirma que ele incentivou o desenvolvimento da medicina herbal, para homens e animais, nos territórios dos reis helenísticos: "Em todos os lugares dentro do domínio do Amado dos Deuses, do rei Piyadasi [Ashoka], e entre os povos para além das fronteiras, os Cholas , os Pandyas , os Satiyaputras, os Keralaputras, tanto quanto os Tamraparni e onde o rei grego Antíoco [II] governa, e entre os reis que são vizinhos de Antíoco, em toda parte tem o Amado dos Deuses, rei Piyadasi, prescrevia dois tipos de tratamento médico: tratamento médico para os seres humanos e tratamento médico para animais Sempre ervas medicinais...” Embora a literatura clássica mencione quase que exclusivamente a atividade de Antíoco II no Ocidente, por outras fontes sabemos que o Império Selêucida bem como outros reinos helenísticos, estiveram abertos as influências culturais vindas da Índia. Plínio em sua História Natural informa que Antíoco II incentivou a exploração do Oceano Índico.
Moeda do reinado de Antíoco Teos cunhada em Tarso, Cilícia, com as
imagens das deusas Atena e Niké (a Vitória)
No Ocidente, o rei celebrou um tratado com a cidade de Lisimáquia na Trácia, mas sitiou a cidade trácia de Cypsela com a ajuda de mercenários trácios comandados por Tris e Dromichaetes, aos quais o rei forneceu ricos ornamentos de ouro e prata. Vendo que o rei selêucida vestia assim seus homens, os habitantes de Cypsela baixarama defesa, foram até Antíoco II e selaram a paz. Os habitantes da Jônia obtiveram privilégios de cidadania conferidos por Antíoco Teos que séculos depois seriam reivindicados por judeus que viriam morar na região. O rei removeu algumas imagens de deuses de Chipre (possessão egípcia) e as transferiu para Antioquia da Síria. O rei não descuida da segurança mantendo uma manada regular de elefantes de guerra ao mesmo tempo que aprecia as artes tratando Heródoto, um recitador mímico, e Arquelau, um dançarino, com grande honra. Porém, o filósofo Licon recusou visitar sua corte.

Decadência
Não obstante, Antíoco II e seus ancestrais fossem objeto de um culto cívico-religioso como “deuses”, a “divindade” do rei selêucida não pode impedir a decadência de seu reinado. Por volta de 255 e 250, o sátrapa da Báctria, Diodoto, começou a agir de forma autônoma em relação a corte de Antioquia: ele cunha moedas com o nome de Antíoco II, mas coloca sua própria efígie nelas. E o começo da decadência do “divino” Antíoco Teos: Ele se entregou de tal maneira ao vinho que costumava ficar bêbado, e depois dormir por um longo tempo, e então, quando a noite chegava, ele acordava e voltava a beber novamente. Tal era seu estado que, muito raramente, tratava dos assuntos de seu reino estando sóbrio. Sua embriaguez era tal que os negócios reais ficaram nas mãos dos irmãos cipriotas Aristeu e Temison, que tinham grande intimidade com o rei. Diz-se que Antíoco largou o governo de tal maneira nas mãos dos cipriotas que só não passou para eles o título de rei. Tal era a decadência que Temison era chamado de “Héracles (Hércules) de Antíoco”, e o cipriota se vestia com pele de leão como o semideus grego e recebia um culto adulatório. Em janeiro de 246 morre o rei Ptolomeu II Filadelfo, sogro de Antíoco II. Se sentido livre da aliança que fizera, ele deixa Berenice e seu filho Antíoco na corte de Antioquia e parte para Éfeso para se juntar a sua primeira esposa Laodice em Éfeso. 
Moeda do reinado de Antíoco Teos com a representação de Héracles e Zeus
Antíoco II, que diza ser Berenice sua rainha e Laodice sua concubina, restaurou Laodice e seus filhos ao seu status real. Laodice, temendo que Antíoco Teos pudesse mudar de ideia de idéia novamente e voltar preferir Berenice, assassinou seu marido, persuadindo seus servos para envenená-lo. Morto o rei, seu primogênito, Seleuco II, assume o trono. Para assegurar maior estabilidade ao governo de seu filho, Laodice manda matar Berenice e Antíoco em Antioquia renovando, todavia, o conflito com o Egito cujo novo faraó quer vingar as mortes da irmã e do sobrinho. Assim morreu Antíoco II Teos com 40 anos de idade em Éfeso. Seu corpo foi sepultado no chamado Mausoléu Belevi, hoje na Turquia. O mausoléu fora construído inicalmente para o rei Lisímaco da Macedônia, mas não fora ocupado. O árduo trabalho de seu avô e seu pai para construir e manter um império plurinacional começava a se diliuir.
Mausoleu Belevi: onde foi depositado o corpo de Antíoco II Teos

FONTES:
http://sitemaker.umich.edu/mladjov/files/seleucid_kings_of_syria.pdf
http://www.cristoraul.com/ENGLISH/readinghall/GalleryofHistory/House-of-Seleucus/Chapter-9-ANTIOCHUS_II.html
http://en.wikipedia.org/wiki/Syrian_Wars#Second_Syrian_War_.28260_.E2.80.93_253_BC.29
http://www.livius.org/am-ao/antiochus/antiochus_ii_theos.html
http://www.antikforever.com/Syrie-Palestine/main_palest.htm
http://www.wildwinds.com/coins/greece/seleucia/antiochos_II/t.html
http://en.wikipedia.org/wiki/Battle_of_Cos
http://en.wikipedia.org/wiki/Laodice_I
http://www.iranicaonline.org/articles/diodotus
http://penelope.uchicago.edu/aelian/varhist2.xhtml#chap41
http://www.attalus.org/old/athenaeus10.html#438
http://www.attalus.org/translate/eusebius3.html#251
http://homepage.univie.ac.at/elisabeth.trinkl/forum/forum1207/45marmor.htm
http://www.livius.org/be-bm/belevi/belevi.html
http://www.wildwinds.com/coins/greece/seleucia/antiochos_II/t.html
http://www.mlahanas.de/Greeks/Bios/PtolemyIIPhiladelphus.html
http://en.wikipedia.org/wiki/File:Asoka_Kaart.gif
http://www.attalus.org/translate/daniel.html#43

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