domingo, 2 de março de 2014

ANTÍOCO I SÓTER (281 – 261 a.C.) - PARTE II

Antíoco I e a Ásia Menor
Antíoco I não teve tempo e oportunidade de vingar seu pai e reivindicar a Macedônia e Trácia de Ptolomeu Cerauno. A melhor maneira de honrar a memória de seu pai era manter os territórios que conquistara e havia inimigos mais poderosos que Cerauno para Antíoco se preocupar. Na Ásia Menor, a fidelidade à casa dos Selêucidas é questionada e Antíoco tenta submeter os capadócios e os bitínios, mas seu general Amintas é derrotado por Ariarates II da Capadócia e Orontes III da Armênia. A Bitínia sob o reinado de Zipoites I também segue seu curso independente do governo selêucida. No entanto as cidades de origem e cultura helênicas se mantém, de um modo geral, relativamente fiéis.  Antíoco I é proclamado stephanophoros ("portador da coroa") de Mileto. Seguindo o exemplo de seu pai e da tradição aquemênida, nomeia seu filho Seleuco como governador das províncias orientais. No aspecto religioso Antíoco I promove o culto à memória de seu pai e propaga o mito de que sua dinastia é descente do deus grego Apolo, e portanto de origem divina.
Moeda do reinado de Antíoco I Sóter cunhada em Sardes, capital da Lídia,  Ásia Menor, que traz a efígie deificada
 de Seleuco I Nicátor e a representação do deus Apolo de quem os Selêucidas supostamente descendem

A Guerra Cariana
Entre 280 e 279 o faraó Ptolomeu II do Egito, visando expandir seu poder no Mediterrâneo oriental, realiza uma breve mas bem-sucedida guerra contra Antíoco I. Ptolomeu II investe contra a Ásia Menor e conquista a Jônia, Cária, Lícia, Panfília e partes da Cilícia. Na Síria, entretanto, quando Ptolomeu II tomou Damasco descobriu que não era tão fácil assim enfrentar Antíoco que é tão poderoso quanto seu pai. Assim um armistício foi concluído entre Lágidas (a dinastia macedônia do Egito) e Selêucidas. Antíoco aceitou a derrota, porque ele precisava de toda a sua energia para organizar conquistas de seu pai na Ásia Menor. Esse primeiro embate entre Lágidas e Selêucidas é o conhecido como Guerra Cariana e é o prelúdio da Primeira Guerra Síria entre o Egito Ptolomaico e o Império Selêucida.
O reino de Antíoco I na Ásia Menor em torno de 280 a.C. A costa sul (Jônia, Cária, Lícia, Pisídia e parte da Cilícia)
foi conquistada por Ptolomeu II do Egito. Na Europa, os reinos de Antígono II e Ptolomeu Cerauno

Antíoco e Beroso
Em meio a tantos acontecimentos, as relações de Antíoco I com a Babilônia não foram olvidadas. Beroso, sacerdote babilônico, que escreveu em grego uma história da Babilônia (Babyloniaka) dedicada ao rei selêucida Antíoco I e que foi publicado no terceiro ano de reinado de Antíoco em 278 a.C . A obra completa se perdeu sendo conhecida por citações de autores posteriores.


A Invasão Gaulesa
No inverno de 279, uma grande horda de gauleses caiu sobre a Macedônia vinda das florestas do norte. Eles mataram Ptolomeu Cerauno em batalha. A Macedônia entrou em colapso sob governantes inábeis. Depois de saquear Macedônia, os gauleses invadiram a Grécia. Antígono II Gônotas colaborou na defesa da Grécia contra os invasores, mas foram os etólios que assumiram a liderança para derrotar os gauleses. Antíoco I, cunhado de Gônotas, e como todo rei helenístico, um entusiasta defensor da Grécia, envia um contingente de 500 homens sob o comando de Telesarco para ajudar a combater os gauleses. Telesarco (De quem Pausânias diz ser "extremamente zeloso na causa da Grécia") e seus homens defenderam uma das duas rotas secretas sobre o Monte Eta . Sua missão era impedir a pilhagem do templo de Atena, situado no distrito de Traquis e um alvo particularmente atraente por causa da riqueza das ofertas que detinha. Embora Telesarco conseguisse afastar os gauleses, ele foi morto em batalha e seus homens derrotados. Os gauleses que tomaram a outra rota sobre o Monte Eta e investem contra a cidade de Callium. Em 278, um exército grego com um grande contingente etólio resistiu aos gauleses nas Termópilas e em Delfos, e apesar da derrota, infligindo-lhes pesadas baixas e obrigando-os a recuar. 
Guerreiros gauleses

Na Ásia Menor, Antíoco I tenta submeter o reino da Bitínia governado por Nicomedes I. Seu general, Hermógenes, é morto em 279 ao tentar submeter o país. Em 277 a.C. um irmão Nicomedes, Zipoites II, lançou-se em armas contra Nicomedes. Sustentado por Antíoco, Zipoites II consegue dominar uma boa parte da Bitínia. Enquanto enfrenta seu irmão, Nicomedes ainda tem que lutar contra Antíoco I que tenda dominar a Bitínia desde os dias de seu pai. Para fortalecer-se contra a ameaça de Antíoco, Nicomedes se alia à cidade grega livre de Heraclea Pôntica e com o rei da Macedônia Antígono II Gônotas. O ataque de Antíoco foi inexpressivo já que se retirou da Bitínia sem travar uma só batalha. Nicomedes volta-se para a ameaça mais grave representada por seu irmão (que governa parte da Bitínia há três anos) solicitando a ajuda dos gauleses, que liderados por Lenório e Lotário, atravessaram a Europa e chegando ao estreito do Bósforo (que separa a Europa da Ásia Menor) e atacam Bizâncio. Nicomedes providencia para que os invasores atravessem para a Ásia e juntos derrotam e matam Zipoetes II. Os gauleses que invadiram a Ásia são mais conhecidos como gálatas e instauram o pânico nas terras por onde passam. As cidades gregas tem que pagar as taxas exigidas pelos gálatas ou são pilhadas e destruídas. Sua força bélica aterrorizante está , portanto, à venda e ela pode ser usada pelos monarcas da Ásia Menor uns contra os outros e principalmente contra Antíoco I.
As invasões gaulesas e os reinos helenísticos

Aliança com a Macedônia
Enquanto os gálatas espalham terror na Ásia e na Trácia, Antígono II Gônotas consegue dominar a Macedônia. Antíoco I e Antígono II iniciantemente se desentendem e travam um conflito (279 a.C.) possivelmente pelo direito ao trono da Macedônia. Em que pese a reivindicação de Antíoco I ao trono macedônio por causa da vitória de seu pai sobre Lisímaco, ele prefere se aliar a Antígono reforçando seus vínculos familiares (Estratonice, esposa de Antíoco, era irmã de Antígono) dando em casamento ao novo rei macedônio sua irmã-enteada, Fila II, filha de Estraonice com Seleuco I. Selêucidas e Antigônidas mais uma vez se unem pelo matrimonio. Fila II foi enviada a Macedônia e o casamento foi celebrado com a presença de poetas da época, Arato de Soli e Alexandre da Etólia (276 a.C.).

Antíoco, o Salvador
A presença dos gálatas nas terras selêucidas da Ásia Menor não podia ser ignorada e Antíoco finalmente teve que enfrentar os invasores. Na noite antes da batalha (275 a.C.) o rei teve um sonho em que Alexandre Magno estava de pé ao seu lado e lhe disse: "Saúde". Essa era uma saudação comum de despedida. Isso deixou o rei apreensivo. Os gálatas tinham cerca de quarenta mil cavalos e uma grande variedade de carros, oitenta deles com foices, e contra tudo isso Antíoco tinha apenas um pequeno corpo de tropas, rapidamente recrutadas e, na maior parte, com armamento leve. Mas, Teodotas de Rodes, o tático de suas tropas, exortou ao rei que tivesse bom ânimo e o aconselhou a colocar seus dezesseis elefantes de guerra na parte dianteira da batalha. Quando do embate, os elefantes assustaram os cavalos dos gálatas e esses recuaram. Os carros-foice rasgaram as suas próprias fileiras. O exército selêucida executou um imenso massacre sobre os temíveis gálatas. Apenas alguns deles conseguiram fugir para as colinas. O exército selêucida aclamou seu rei com o título de kallinikos ("o que tem bela vitória"). Mas se relata que os olhos de Antíoco estavam cheios de lágrimas amargas, pois considerava uma vergonha sua vitória ter dependido de 16 animais. Embora não tivesse derrotado todos os gálatas e eles continuassem a espalhar seu terror na Ásia Menor, a vitória de Antíoco I mostrou que eles não eram invencíveis. Por causa disso Antíoco passou a ser aclamado como sóter, isto é, o salvador passando a História como Antíoco I Sóter.
Moeda do reinado de Antíoco I com as imagens de um escudo com o símblo selêucida da âncora e
um elefante, elemento decisivo na batalha de Antíoco I contra os gálatas


A Primeira Guerra Síria (274-272 a.C.)
Após a morte do faraó Ptolomeu I (283 a.C.), o governador da Cirenaica (região vizinha do Egito, hoje pertencente a Líbia), Magas de Cirene, começou a lutar para se manter independente de seu meio-irmão, o novo faraó Ptolomeu II. Em 275, Magas se casa com Apame II, filha de Antíoco I, que está em armistício com Ptolomeu II pela posse de regiões na Ásia Menor e no Oriente Próximo. Em 274 Magas ataca o Egito e Antíoco I retoma Damasco para os Selêucidas. Magas, entretanto, é obrigado a recuar ante uma rebelião interna dos marmáridas. Ptolomeu II, todavia, reconhece a independência da Cirenaica e se volta para atacar Antíoco I que invadira os territórios ptolomaicos na Ásia Menor e na costa da Síria. A poderosa marinha egípcia ataca os portos selêucidas e obriga a Antíoco I recuar. Em 272/271 Ptolomeu II e Antíoco I selam um tratado de paz. Embora os territórios dos dois reinos não tenham mudado, os Selêucidas conseguem reter Damasco e algumas porções da Ásia Menor ptolomaica. Em 273, possivelmente por causa da invasão de Pirro do Épiro à Macedônia, o poeta Arato, amigo de Antígono II, migra para a corte de Antíoco I.
Os reinos helenísticos em 270 a.C.

As Satrápias Orientais
O envolvimento de Antíoco I com as questões do Ocidente durante a primeira década de seu reinado deu a oportunidade para uma dinastia persa local para surgir perto da antiga cidade de Persépolis na Pérsia. Tal fato é atestado pela cunhagem local com símbolos mazdeístas, nomes pessoais persas, e, possivelmente, o título persa para governador (frataraka). O grau de independência dessa dinastia local e a cronologia são ainda discutidos, mas condizente com a política selêucida de conceder certo grau de autonomia em determinados locais. Realmente, o arranjos de Antíoco para os satrápias orientais não são bem conhecidos, exceto pelo fato, de acordo com os textos cuneiformes, ter nomeado seu primogênito, Seleuco, como corregente logo após a morte de Seleuco I.
Moeda do reinado de Antíoco I com sua efígie e a efígie idealizada de Bucéfalo, o famoso cavalo de
Alexandre, o Grande, de quem Antíoco, em certo sentido, era sucessor no Oriente
Qualquer que fosse o sistema de governo de Antíoco I no Oriente, as satrápias da Babilônia e Báctria, pelo menos, foram suficientemente leais em 273 para enviar substanciais reforços, incluindo prata e elefantes, a Antíoco I durante a Primeira Guerra Síria. A façanha persa utilizada no estratagema pelo qual Antíoco I enganou Dion, o general de Ptolomeu II, e capturou Damasco durante esta guerra pode refletir influência persa no exército selêucida.
Moeda do reinado de Antíoco I (ou II) encontrada em Susa, capital do Elão, com as representações
 de Héracles e Zeus, divindades associadas a Alexandre, o Grande
Embora a maior parte do reinado de Antíoco I tenha se voltado para o Ocidente, ele não negligenciava seus deveres religiosos no Oriente. Em 27 de março 268 a.C. Antíoco I lançou as bases da construção de Ezida, templo dedicado ao deus babilônico Nabu, em Borsipa, localidade próxima à Babilônia. O rei persa Xerxes havia destruído o templo em 484 a.C. Nabu, filho de Marduque, deus supremo dos babilônios, era o deus da escrita e da sabedoria e foi associado ao deus grego Apolo, de quem os Selêucidas descendiam segundo a mitologia oficial. O evento está registrado no documento conhecido como o Cilindro de Antíoco, artefato de argila em formato cilíndrico. Um dado interessante do cilindro é a titularia de Antíoco I, que assume os títulos reais dos governantes que o precederam, babilônios e persas: “Antíoco, grande rei, rei poderoso, o rei do mundo, rei de Babilônia, o rei das terras, provedor para Esagila e Ezida, herdeiro principal do rei Seleuco, o macedônio, rei de Babilônia, sou eu.” Embora assuma os títulos que se espera do rei da Babilônia, Antíoco não se esquece de sua ascendência macedônia.
O Cilindro de Antíoco
Seus interesses orientais são ainda atestados por sua amizade com Amitrochates da Índia (provavelmente o rei indiano Bindusara). No entanto, o Império sofreu um golpe terrível: Seleuco, o príncipe-herdeiro e governador das satrápias orientais, achou-se suspeito de traição contra seu pai e foi executado cerca de 267, e seu irmão mais novo, Antíoco (II), foi nomeado em 266 como o novo herdeiro do trono.

A Independência de Pérgamo
Filetero de Pérgamo ajudara Seleuco I contra Lisímaco nos eventos que levaram a batalha de Corupédio (281 a.C.) e Pérgamo desfrutou de grande autonomia com Filetero, ainda que se encontrasse teoricamente sob o poder dos Selêucidas. Alías, a sobrinha do rei, Antióquide, era casada com Átalo, irmão de Filetero. Esse adotara seu sobrinho Eumenes como filho e sucessor e quando de sua morte em 263 Eumenes I assumiu o comando de Pérgamo. Ainda que não tomasse o título de rei, Eumenes quando assumiu o trono e passou a agir com grande independência de seu “senhor”, Antíoco I. Encorajado por Ptolomeu II, Eumenes se rebela e derrota ao rei Antíoco I próximo de Sardes, a capital da Lídia em 261 a. C. Assim pôde liberar Pérgamo e ampliar consideravelmente seus territórios. Estendeu seu controle ao sul do rio Caico, até o golfo de Cime. Antíoco I não insistiu numa luta contra Eumenes I. Assim a cidade de Pérgamo se erigia em um reino próprio governado pela dinastia dos Atálidas, à sombra dos Selêucidas.
Moeda do reinado de Antíoco I cunha na Ásia Menor com as representações
das deusas Atena e Nique, a vitória.

A Última Batalha
Apesar da derrota para Eumenes I, Antíoco I não esmorece seus afazeres e deleites de governante. Em 261 escolhe os filhos do flautista da corte Sóstrato como guarda-costas e sua corte é referida como próspera e luxuosa. No mesmo ano ergue (ou fortifica) várias cidades: Achais-Heracleia, Apameia em Sittacene, Artacabene, Laodiceia na Média e Estratoniceia. O rei devolve algumas estátuas a Atenas que haviam sido tomadas pelo rei Xerxes quando da invasão persa à Grécia. A Liga dos Jônios celebra o aniversário de Antíoco.  Assim como seu pai, Antíoco Sóter correu de um lado para o outro para manter o mais intacto possível seu império. Embora fosse o rei, participou pessoalmente das batalhas (era um guerreiro desde sua juventude) o que é testemunhado por uma pedra encontrada em Ílion que contém um decreto daquela cidade que atribui honras ao médico Metrodoro de Anfípolis, porque ele tinha tratado com sucesso o rei Antíoco de uma ferida no pescoço que havia sido feita em batalha.  Antíoco entra nos registros da História Universal em uma batalha (Ipso,301 a.C.) e os deixa também em uma batalha. Os gálatas voltaram a perturbar os domínios selêucidas na Ásia. Antíoco I trava-lhes batalha perto de Éfeso, porém o rei foi morto por um gálata chamado Centareto. Após matar o rei, Centareto toma-lhe o cavalo. O animal, entretanto, não aceita o novo montador e dispara desgovernando atirando-se em um precipício matando a ambos. Era 2 de junho de 261 quando Antíoco I Sóter faleceu. Seu filho Antíoco II, que já era cogovernante da porção oriental, assume o trono e herda o mais extenso dos reinos helenísticos.

FONTES:
http://en.wikipedia.org/wiki/Antiochus_I_Soter
http://www.livius.org/su-sz/syrian_wars/1a_syrian_war.html
http://www.cristoraul.com/ENGLISH/readinghall/GalleryofHistory/House-of-Seleucus/Chapter-8-ANTIOCHUS_I.html
http://www.livius.org/am-ao/antiochus/antiochus_i_soter.html
http://en.wikipedia.org/wiki/Telesarchus_(military_commander)
http://www.livius.org/be-bm/berossus/berossus.html
http://www.wildwinds.com/coins/greece/seleucia/antiochos_I/SC_323@2b.jpg
http://en.wikipedia.org/wiki/File:Oktadrachmon_Ptolemaios_II_Arsinoe_II.
http://www.livius.org/su-sz/syrian_wars/1b_syrian_war.html
http://www.ascs.org.au/news/ascs33/ANAGNOSTOU-LAOUTIDES.pdf
http://www.livius.org/cg-cm/chronicles/antiochus_cylinder/antiochus_cylinder1.html
http://www.academia.edu/247461/Apollo-Nabu_the_Babylonian_policy_of_Antiochus_I
http://www.attalus.org/names/a/antiochus.html#1
http://osatalidas.blogspot.com.br/2009/02/eumenes-i-263-241-ac.html a.C.)
http://coinindia.com/Antiochos-horse-tet.JPG
http://www.wildwinds.com/coins/greece/seleucia/antiochos_I/t.html
http://www.antikforever.com/Syrie-Palestine/main_palest.htm
http://encyclopedie.arbre-celtique.com/centaretus-centoarates-cintaretus-2848.htm