terça-feira, 7 de janeiro de 2014

SELEUCO I NICÁTOR (312 – 281 a.C.) - PARTE V

A Guerra Babilônica 
A luta de Seleuco contra Antígono Monoftalmo pela posse da Babilônia e dos territórios orientais ficou conhecida como Guerra Babilônica (311-309 a.C.). Quase imediatamente à tomada de Babilônia por Seleuco, o sátrapa da Média, Nicanor, e o sátrapa da Ária, Euagoras, aliados de Antígono, marcharam em direção à Babilônia, mas Seleuco se preparou para enfrentá-los perto do rio Tigre. Seleuco escondeu-se com seus homens nos pântanos da região enquanto Nicanor e Euagoras pensavam que ele tinha recuado. À noite, Seleuco atacou. Quando Euagoras foi morto durante a batalha, seus homens se passaram para o lado de Seleuco, e Nicanor foi forçado a recuar. Os soldados de Euagoras também aderiram a Seleuco por causa de sua insatisfação com Antígono, segundo Diodoro Sículo. Enfim, Seleuco tomou imediatamente a capital de Nicanor, Ecbátana, e alistou os soldados da cidade em seu próprio exército. Seleuco e seus homens agora marcharam para o sul, onde capturaram a cidade de Susa, acrescentando a satrápia de Susiana (o antigo Elão) a seus domínios. Logo, a Média inteira foi adicionada. Nicanor morreu em combate segundo Apiano. Segundo Diodoro Sículo, Nicanor teria escrito a Antígono sobre a atuação de Seleuco e fugiu para o deserto onde morreu. Estasanor, sátrapa da Báctria e da Sogdiana se manteve neutro durante o conflito. Em cerca de meio ano, Seleuco havia se tornado um poderoso governante, e segundo Apiano, como foi muito bem sucedido na guerra foi apelidado de nikátor, palavra grega que significa vencedor. Seleuco era senhor da maior cidade do mundo (a Babilônia) e com amplos recursos humanos e materiais a seu dispor. Segundo Diodoro Sículo, Seleuco escreveu a Ptolomeu e amigos informando de suas vitórias, mas não como um mero governador, mas verdadeiramente como um dos diádocos, um dos futuros reis sucessores de Alexandre Magno.
O Portão de Ishtar, uma das entradas para a cidade de Babilônia e uma das maravilhas do Mundo Antigo:
Nas celebrações do Ano Novo babilônico certamente Seleuco se encontrava próximo a ela.

A Campanha de Demétrio
Antígono aproveitou a trégua com Ptolomeu, Cassandro e Lisímaco para atacar Seleuco, que retornara à
Babilônia antes do tratado de paz de 311. Enquanto os demais diádocos foram mantidos como governadores de suas possessões em nome do rei-menino Alexandre IV, Seleuco não foi incluído no tratado. Portanto, o único apoio efetivo que Seleuco podia contar para manter sua posição era o de seus homens, de suas armas e dos babilônios que já o viam como seu novo rei. Com suas fronteiras ocidentais tranquilizadas, Antígono enviou seu filho Demétrio Poliorcetes com a missão de derrotar Seleuco e recuperar os territórios perdidos. Seleuco ainda estava na Média quando Demétrio chegou a Babilônia (início de 310 a.C.). Pátrocles, que havia sido estabelecido como general da Babilônia por Seleuco, ao saber que o inimigo estava nas fronteiras da Mesopotâmia, não ousou aguardar a sua chegada já que ele tinha poucos homens para enfrentá-lo, mas ele deu ordens para os civis deixarem a cidade, encaminhando alguns deles para além do Eufrates e refugiarem-se no deserto; outros atravessaram o rio Tigre e se colocaram sob a proteção de Euteles, governador do Elão e da região do Golfo Pérsico. 
Demétrio, filho de Antígono que combateu Seleuco
Pátrocles e seus soldados que tinha usando cursos de rios e canais como defesas, continuaram se movendo sobre na satrápia, observando os movimentos de Demétrio e ao mesmo tempo enviando uma mensagem para Seleuco na Média sobre o que estava ocorrendo ao longo do tempo e solicitando a enviar ajuda o mais rápido possível. Quando Demétrio, chegando à Babilônia, encontrou a cidade abandonada, ele começou a cercar dois palácios da cidade que serviam como cidadelas. Um deles entregou a seus homens para pilhagem e o outro a sitiou por alguns dias. Tendo expirado o prazo que lhe estabelecera seu pai para a conquista da cidade, Demétrio teve que retornar. Deixou Arquelau, um de seus amigos, para continuar o cerco, dando-lhe 5.000 homens de infantaria e 1.000 de cavalaria, enquanto retornava para o Ocidente. Enquanto isso Seleuco organizou um estratagema de guerrilhas contra Arquelau para enfraquecê-lo.
Moeda babilônica de Seleuco cunhada em 310:
A cunhagem de moedas era um símbolo de independência política.
 Veja-se acima do leão o símbolo selêucida da âncora

A Campanha de Antígono
Em agosto de 310, o próprio Antígono chegou a Babilônia. Houve lutas nas ruas, mas Antígono foi incapaz de capturar todos os edifícios que ele queria tomar, e parece ter deixado a cidade em marco 309, embora a luta no campo durou até depois de 10 de abril do mesmo ano, dia de Ano Novo no calendário babilônico.  Ao que tudo indica a presença de Antígono na cidade foi desastrosa (saques, opressões) talvez devido ao apoio que a população tenha dado a Seleuco. Durante o verão, Antígono realizou campanhas punitivas na região e Seleuco continuou sua tática de guerrilha em vez de um enfrentamento direto. A luta deve ter tido um efeito devastador sobre a cidade e a zona rural da Babilônia. Os preços das mercadorias subiram grandemente, como está registrado pelo autor das chamadas Crônicas dos Diádocos, tablete de argila que registra em escrita acádica cuneiforme as lutas dos Diádocos desde a morte de Alexandre Magno até o confronto entre Antígono e Seleuco na Babilônia. 
Tablete de argila conhecido como Crônica dos Diádocos: ela narra em acádico e em escrita cuneiforme
acontecimentos desde a morte de Alexandre Magno até a luta de Seleuco e Antígono na Babilônia
Finalmente, Seleuco e Antígono se enfrentaram em uma batalha em grande escala. Na ocasião do embate, resolveram adiar a batalha para o dia seguinte. De acordo com o autor grego Polieno, antigo historiador militar, Seleuco ordenou aos seus homens que tomassem seu desjejum durante a noite, e atacassem antes do amanhecer. Seus inimigos estavam com fome e despreparados, e Antígono foi obrigado a voltar para a Síria (30 ou 31 de agosto de 309 a.C.). Jonas Lendering, assinala que, embora não seja impossível, esse relato sobre a causa da derrota de Antígono não inspira confiança, uma vez que esse era um dos mais hábeis generais de Alexandre Magno. De qualquer forma, a Crônica dos Diádocos confirma que houve batalha entre Antígono e Seleuco e que ao fim Seleuco assumiu o título general, isto é, o estratego da Ásia, líder militar e político. Antígono não insistiu em combater seu rival. As duas partes devem ter concluído algum tratado de paz, pois Antígono se voltou para o Ocidente, onde Ptolomeu aumentava seus territórios e influência sobre o Mar Egeu ameaçando as fronteiras ocidentais de seus domínios. Ambos os lados fortificaram de suas fronteiras. Antígono construiu uma série de fortalezas ao longo do rio Balikh enquanto Seleuco construiu algumas cidades, incluindo Dura-Europos e Nisibis. Seleuco agora estava uma mão livre para construir seu reino no Oriente.
A fim da Guerra Babilônica, Seleuco tomara os territórios orientais de Antígono

Nascem os Reinos Helenísticos 
Enquanto Antígono enfrentava Seleuco na Babilônia, os demais Diádocos não permaneceram quietos. Ptolomeu conquistou Chipre (primavera de 309) e no Mar Egeu reorganizou a Liga Nesiótica, que fora criada por Antígono, em seu favor. No mesmo ano, Lisímaco, que governava a a Trácia e porções da Ásia Menor, fundou a cidade de Lisimáquia e Cassandro, receoso de perder sua regência ante movimentos populares que reivindicavam que o rei Alexandre IV, então com 14 anos, já assumisse o poder, mandou matá-lo e a sua mãe. A dinastia dos Argéadas que havia fundado e governado a Macedônia por cerca de 500 anos fora enfim exterminada. O rei vivo já era uma fraca desculpa para os Diádocos não proclamarem plenamente sua independência e reivindicarem a realeza sobre os territórios que governavam. Com o rei morto, nada mais impedia isso. Hércules, suposto filho bastardo de Alexandre Magno, também fora assassina do por Poliperconte que aliara-se a Cassandro. Em 307, Antígono enviou seu filho Demétrio à Grécia e ele trouxe a Liga Nesiótica novamente sob seu controle, e inesperadamente, desembarcou em Atenas, onde foi reconhecido como libertador e “deus”. Isso iniciou a Quarta Guerra dos Diádocos. 
Moeda de Antígono I Monoftalmo com a inscrição "do rei Antígono"

Cassandro perdeu o controle da Grécia e tentava reorganizar o seu próprio território. Ele não podia apoiar Ptolomeu, que agora tinha de suportar sozinho o peso do ataque de Demétrio que arrebatara Chipre do domínio egípcio. Quando a notícia da vitória de Demétrio chegou a Antígono ele foi proclamado basileus, isto é, rei. Era inevitável que em algum tempo um dos diádocos se proclamasse reis. Afinal, todos os descendentes masculinos de Alexandre, o Grande, e seu pai, Filipe II estavam mortos. Quando a notícia foi relatada aos seguidores de Ptolomeu no Egito, eles também o proclamaram rei (no caso desse, faraó). Lisímaco, que fundara uma cidade com seu nome, começou usar a coroa, e assim também Seleuco (desde 306 a.C.) começou a adotar o título de rei. Cassandro, no entanto, embora os outros escreveram para ele e se dirigissem a ele como rei, continuou a escrever cartas com o mesmo estilo de antes, sem usar o título, o qual assumiu em 305 a.C. O Império Alexandrino se desfizera de vez e em seu lugar nasciam os reinos helenísticos, dentre eles o reino dos Selêucidas.

FONTES:
http://www.livius.org/a/1/greeks/demetrius_poliorcetes_louvre.JPG

Nenhum comentário:

Postar um comentário