domingo, 5 de janeiro de 2014

SELEUCO I NICÁTOR (312 – 281 a.C.) - PARTE IV

A Terceira Guerra dos Diádocos (314-311 a.C.)
Depois de chegar no Egito, Seleuco enviou emissários à Grécia para informar Cassandro na Macedônia e Lisímaco na Trácia acerca do poder e ambições de Antígono. Sendo Antígono agora o mais poderoso dos Diádocos e os outros logo se aliaram contra ele. O principal instigador dessa coalizão foi Seleuco. Antígono tinha praticamente todos os recursos asiáticos do Império em suas mãos e sua autoridade se estendia desde as satrápias mais orientais até a Síria e a Ásia Menor. Apesar de toda a independência dos diádocos e da variação de seus poderes e riquezas, formalmente eles seriam iguais entre si subordinados ao rei Alexandre IV, filho de Alexandre, o Grande, então sob tutela do regente Cassandro da Macedônia devido a sua menoridade. Os Diádocos enviaram um ultimato a Antígono: todo o dinheiro que ele capturara dos tesouros do Oriente deveria ser redistribuído com os demais diádocos (visto que eram fruto das conquistas de Alexandre da qual todos participaram) e que ele ainda teria que desistir de suas conquistas no Oriente. Os aliados exigiram ainda que Seleuco fosse autorizado a voltar para a Babilônia como governador. Naturalmente, Antígono, que trabalhara arduamente para conquistar seu poder, recusou. Eclodia uma nova guerra: A Terceira Guerra dos Diádocos.
Antígono Monoftalmo (o caolha) retratado no filme Alexandre (2002) de Oliver Stone:
o general  macedônio queria ser o senhor de todo império de Alexandre
Em 314, Antígono invadiu a Síria e a Fenícia, que estava sob o controle de Ptolomeu. Fez aliança com o Poliperconte, o regente nominal do império que controlava apenas o Peloponeso, o qual cedeu a Antígono, após considerável remessa de dinheiro, o cargo de regente do Império Macedônico. Antígono aproveitando-se da impopularidade de Cassandro arvorou-se em campeão da causa greco-macedônica. Ele convocou uma assembleia geral de suas tropas e acusou Cassandro de executar injustamente a mãe de Alexandre Magno, Olímpia, e que ele prestasse conta do destino da rainha-mãe Roxane e do rei Alexandre IV (que Cassandro mantinha sob custódia numa fortaleza em Anfípolis e que não eram vistos em público há algum tempo). Cassandro e seus aliados foram declarados inimigos da causa greco-macedônica e Antígono começou a mobilizar esforços contra eles e, se possível, ao final do conflito, ser o único senhor do Império Macedônico.

Seleuco, o Almirante
No Egito, Seleuco atuou um almirante sob Ptolomeu. Ao mesmo tempo, ele que começou o cerco de Tiro, cidade fenícia, Antígono fez uma aliança com a ilha de Rodes, poderosa confederação comercial. A ilha tinha uma localização estratégica e sua marinha era capaz de impedir que os aliados combinassem suas forças. Por causa da ameaça de Rodes, Ptolomeu deu a Seleuco uma centena de navios e o mandou para o Mar Egeu. A frota era pequena demais para derrotar Rodes, mas era grande o suficiente para forçar Asandro, o sátrapa da Cária, aliar-se com Ptolomeu. Para demonstrar o seu poder, Seleuco também invadiu a cidade de Eritrea, no litoral da Ásia Menor. Ptolomeu, sobrinho de Antígono, atacou Asandro. Seleuco retornou a Chipre, onde Ptolomeu I tinha enviado seu irmão Menelau, juntamente com 10.000 mercenários e 100 navios. Seleuco e Menelau começaram a sitiar Quítion. Antígono enviou a maior parte de sua frota para o Mar Egeu e seu exército para a Ásia Menor. Em missão no Mar Egeu, Seleuco visitou o oráculo de Apolo em Dídimos, Mileto, e o oráculo teria declarado que ele seria rei.
A Batalha de Gaza em 312 a.C.

O Retorno do Sátrapa
Ptolomeu derrotara Demétrio, filho Antígono, na batalha de Gaza em 312 a.C. obtendo uma grande vitória sobre as forças antigônidas. É provável que Seleuco tenha tomado parte na batalha. Peiton, filho de Agenor, a quem Antígono havia nomeado como o novo sátrapa da Babilônia, caiu na batalha. A morte de Peiton deu Seleuco uma oportunidade para voltar a Babilônia, ao que parece que estava preparado. Ptolomeu deu a Seleuco 800 homens de infantaria e 200 de cavalaria. Ele também tinha os seus amigos que o acompanhavam, talvez os mesmos de 50 que fugiram com ele da Babilônia. Neste momento, Antígono cometeu o maior erro de sua vida, na opinião do historiador alemão Jona Lendering, ao não dar a devida atenção a ida Seleuco para a Babilônia. Antígono se concentrou nas forças combinadas de Ptolomeu, Cassandro e Lisímaco que o ameaçavam no Ocidente. O historiador Apiano relata que quando Seleuco estava voltando para recuperar a Babilônia, ele tropeçou numa pedra e que, quando ele fez esta pedra ser desenterrada uma âncora foi encontrada sob ela. Os adivinhos ficaram alarmados com esse prodígio, pensando que pressagiava atraso, mas Ptolomeu que acompanhou o episódio, disse que uma âncora era um sinal de segurança, não de atraso. Por esta razão, segundo esse historiador, quando Seleuco se tornou rei, usou uma âncora gravada em seu anel de sinete, símbolo de sua vitória e de seu reino e posteriormente de sua origem “divina”.
Moeda selêucida com a âncora de Seleuco
No caminho para a Babilônia, Seleuco recrutou mais soldados das colônias ao longo do percurso. Ele finalmente tinha cerca de 3.000 soldados. Seleuco encorajava seus soldados a seguirem-no numa expedição de êxito duvidoso e longe dos aliados ocidentais com a convicção de que o oráculo de Apolo em Dídimos havia-lhe assegurado que ele seria rei. Seleuco, segundo Diodoro Sículo, exortou seus homens com o exemplo de Alexandre Magno e seus homens e o próprio Alexandre em sonho lhe assegurara sua futura vitória e liderança. Segundo o mesmo historiador, Seleuco também inspirava grande respeito em seus soldados. Quando em seu avanço entrou Mesopotâmia, a ele aderiram macedônios da região. Quando ele chegou à Babilônia, a maioria dos habitantes veio ao seu encontro dando-lhe apoio e prometendo ajudá-lo uma vez que Seleuco fora um governador generoso no seu tempo anterior como sátrapa. Durante o tempo do governo de Antígono, os templos babilônicos foram saqueados e o povo oprimido. O lugar-tenente de Peiton, Difilo, barricou-se na fortaleza da cidade junto com os que permaneciam ainda fiéis a Antígono. Seleuco conquistou a Babilônia com grande velocidade e a fortaleza também foi capturada rapidamente.
Ruínas do santuário de Apolo em Dídima (Turquia): o deus grego teria revelado a Seleuco que ele seria o rei da Ásia
A chamada Crônica Babilônica menciona um estratagema de Seleuco envolvendo as águas do rio Eufrates, mas o relato não é claro. Os habitantes o receberam com entusiasmo. Amigos de Seleuco que tinham ficado na Babilônia foram libertados do cativeiro. Seu retorno vitorioso para a foi posteriormente considerado como o início oficial do Império Selêucida e esse ano, 312 a.C., como o primeiro da era Selêucida (segundo a contagem babilônica seria o ano 311 a.C.). Antígono e seu filho Demétrio não poderiam derrotar em curto prazo a coalizão de Ptolomeu, Lisímaco e Cassandro. De igual forma esses, apesar da união de suas forças, não conseguiram derrubar Antígono. Um tratado de paz (“a paz dos Dinastas”) foi concluído entre esses diádocos. Ptolomeu e Lisímaco foram confirmados em seus territórios; Cassandro e Antígono permaneceram comandantes supremos das forças macedônias na Europa e na Ásia; as cidades gregas foram reconhecidas por todas as partes como "livres e autônomas" (mas Cassandro manteve guarnições em vários lugares), e que foi acordado que o rei menino Alexandre IV se tornaria o único governante de todo o império quando ele atingisse a maioridade em 305 a.C. Estabelecida a trégua no Ocidente, Antígono poderia se voltar para o Oriente e enfrentar Seleuco.
Moeda de Seleuco com a efígie de Bucéfalo, o famoso cavalo de Alexandre Magno.
 Seleuco, como os outros diádocos procuravam se associar ao grande conquistador
para legitimar sua autoridade

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