quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

SELEUCO I NICÁTOR (312 – 281 a.C.) - PARTE I

Originalmente Seleuco era um oficial macedônio que participou das campanhas de Alexandre, o Grande (356 – 323 a.C.) e que após a morte desse se envolveu nas guerras pelo controle do império de Alexandre alcançando o poder nas satrápias orientais, em especial na Babilônia, onde iniciou seu reinado cujos territórios eram os mais vastos dos deixados por Alexandre. Estendeu seu poder da Índia até a Ásia Menor enfrentando outros reis macedônios e acabou por fundar um império helenístico herdeiro dos antigos impérios orientais que perdurou por quase 250 anos. Favoreceu a cultura grega (helenismo) sem menosprezar as tradições orientais, incentivou a pesquisa científica e fundou novas cidades. Devido ao êxito de suas campanhas foi apelidado de nikátor, adjetivo grego que significa vencedor, vitorioso, passando à História como Seleuco I Nicátor, fundador do império e dinastia que leva seu nome. Em 321, Seleuco se tornou sátrapa da Babilônia tendo-a governado até 315 quando foi expulso por Antígono I Monoftalmo. Em 312 recuperou o controle da Babilônia e das províncias orientais sendo esse ano o marco para contagem da Era Selêucida e não o ano 306, quando assumiu o título de basileus (rei em grego). 
Seleuco I: Busto de bronze romano feito a partir de
um original grego em exposição no museu de Nápoles 

Origens 
Seleuco (em grego Σέλευκος, Séleukos) era filho de Antíoco e Laodice, nobres macedônios. O historiador Juniano Justino (século IV d.C.) afirma que Antíoco foi um dos generais do rei Filipe II da Macedônia (359-336 a.C.). O fato de Antíoco não ser mencionado em outras fontes e que nada se sabe sobre sua suposta carreira sob Filipe II não desacredita a informação de Justino. Possivelmente Antíoco era um membro de uma família nobre da Alta Macedônia. A mãe de Seleuco chamava-se Laodice, mas pouco se sabe sobre ela. Seleuco parece ter amado muito a seus pais, pois fundou várias cidades com nomes em homenagens a eles (as várias Antioquias e Laodiceias na Ásia). Não se sabe ao certo o ano do nascimento de Seleuco. Justino afirma que ele tinha 77 anos de idade durante a batalha de Corupédio (281 a.C.), o que colocaria o seu ano de nascimento em 358 a.C. O historiador Apiano (95-165 d.C.) nos diz Seleuco tinha 73 anos na época da batalha, o que significa que 354 seria o ano de nascimento. Eusébio de Cesareia (265-340), historiador cristão, menciona a idade de 75 anos, e, portanto teria nascido em 356, fazendo Seleuco ter a mesma idade que Alexandre, o Grande, o que provavelmente é uma propaganda para fazê-lo parecer comparável ao célebre conquistador macedônio. Apiano relata que  Seleuco era de uma estrutura tão grande e poderosa que uma vez, quando um touro selvagem foi trazido para um sacrifício a ser oferecido por Alexandre Magno e se soltou de suas cordas, Seleuco segurou sozinho, com nada além de suas mãos, razão pela qual suas estátuas são ornamentados com chifres. Embora tal informação beira a lenda para enaltecer o fundador da dinastia selêucida, a representação de efígies reais com chifres era comum no Mundo Antigo devido ao símbolo de força e poder que os chifres representavam. 
Mapa do antigo reino da Macedônia onde se vê Oréstide (Orestis), terra natal de Seleuco
Seleuco nasceu na cidade de Europos, localizada em Oréstide, região montanhosa da Macedônia. Apenas um ano antes de seu nascimento (se o ano 358 a.C. é aceito como a data mais provável), os peônios invadiram a região. Filipe II derrotou os invasores e poucos anos mais tarde os subjugou ao domínio macedônio. Uma série de lendas, semelhantes às que circularam sobre Alexandre, o Grande, circularam sobre a origem de Seleuco. Foi dito que Antíoco dissera a seu filho antes que ele partisse para combater os persas com Alexandre que seu verdadeiro pai era na verdade o deus Apolo. O deus grego teria tido relações com sua mãe, e em sonho teria deixado um anel com a imagem de uma âncora como um presente para Laodice. Seleuco tinha uma marca de nascença em forma de âncora que testificaria sua origem divina. Foi dito que os filhos e netos de Seleuco também tinha marcas de nascença semelhantes que sinalizariam sua origem divina. Assim Seleuco, conquanto não fosse da realeza macedônia, também era de origem divina e, portanto, legítimo sucessor do igualmente “divino” Alexandre Magno. O historiador bizantino João Malalas (século VI) nos diz que Seleuco tinha uma irmã chamada Didimeia, a qual tinha dois filhos chamados Nicanor e Nicomedes, possivelmente um dado fictício. Didimeia poderia referir-se ao oráculo de Apolo na cidade de Dídima perto de Mileto. Também tem sido sugerido que um filho seu conhecido como Ptolomeu era na verdade seu tio. Quando adolescente, Seleuco foi escolhido para servir como pagem (paides) do rei Felipe II. Era costume para todos os filhos homens das famílias nobres servir primeiro nessa posição e posteriormente como oficiais do exército real.

Carreira sob Alexandre Magno 
Hipaspista
O reino da Macedônia sob Filipe II unificara a maioria dos Estados gregos e preparava uma campanha para atacar o Império Persa na Ásia. Como Filipe foi assassinado, seu filho Alexandre III herdou o trono e a campanha contra os persas. Na primavera de 334 a.C., Seleuco com cerca de vinte e três anos, acompanhou Alexandre na Ásia. Diz o historiador romano Apiano que Seleuco teria consultado o oráculo do deus Apolo no santuário de Dídimos, próximo a Mileto, e o lhe teria si profetizado: "Não tenha pressa de volta para a Europa, a Ásia será muito melhor para você." Não se sabe ao certo qual a posição militar de Seleuco no início da campanha. No momento das campanhas indianas, no final de 327, ele alcançou o posto de comandante do corpo de infantaria de elite do exército macedônio, os hipaspistas (do grego hypaspistai, ‘escudo coberto’) mais tarde conhecidos como o argiráspides, os Escudos de Prata. Os hipaspistas serviam como um amortecedor ou para-choque entre a cavalaria e a infantaria, sendo uma espécie de força policial de elite. Cada membro das hipaspistas era cuidadosamente escolhido de forma individual não só pela sua posição social (havia hipaspistas ligados à realeza), mas também por sua força física e coragem. Os hipaspistas eram conhecidos por sua mobilidade e frequentemente usados em missões especiais em terreno acidentado, bem como em situações que demandavam o combate corpo-a-corpo. Quando Alexandre cruzou o rio Hidaspes em um barco, ele foi acompanhado por Perdicas, Ptolomeu, Lisímaco e também Seleuco. Durante a Batalha do Hidaspes (326 a.C.), Seleuco não teve nenhum papel relevante na batalha, quer em seu planejamento como durante os confrontos, nos quais os militares Crátero, Hefestión, Peiton e Leonato tiveram destaque e cada um tinha destacamentos consideráveis sob seu comando.
Disposição dos hipaspistas (hypaspists) de Seleuco na batalha do Hidaspes
No entanto, isso não minimiza a importância dos hipaspistas liderados por Seleuco, os quais estavam constantemente sob o olhar de Alexandre e à sua disposição. Antes da batalha, após o exército macedônio atravessarar o rio Hidaspes para enfrentar o rei indiano e seus elefantes, Alexandre mudou seu alinhamento defensivo normal. Ele posicionou seus arqueiros à frente de sua companhia de cavalaria, o que os fez servir de escudo contra os elefantes. Após, vinha a infantaria e a cavalaria restante, e por último Seleuco e seus hipaspistas, como guardiães do comando régio. Os macedônios venceram a batalha e incorporaram o reino de Poro a seus domínios. Em 336 o exército macedônio se recusou a seguir Alexandre em mais conquistas além do rio Hífaso  querendo antes retornar para a terra natal e usufruir dos bens adquiridos. Forçado pelas circunstâncias, o rei macedônio inicia seu retorno pelo sul da Índia. Seleuco e seus hipaspistas participaram da campanha do vale do Indo, das batalhas travadas contra o reino dos malianos e da terrível travessia do deserto da Gedrósia.

O Casamento de Seleuco com Apame
Após inúmeros percalços, Alexandre e seus homens retornaram à cidade de Susa, no Elão, uma das principais cidades do Oriente (324 a.C.). A estadia em Susa foi concebida para ser um grande feriado comemorativo para Alexandre, seus oficiais e seus soldados: Muitos soldados valentes foram condecorados, alguns receberam túnicas púrpuras e a outros foram dados diademas de ouro. Nobres de todas as regiões do Império Alexandrino estavam em Susa para homenager o novo rei da Ásia. A maior das festividades em Susa foi uma cerimônia de casamento que durou cinco dias. Desde que Alexandre conquistara a Babilônia, Pérsia e o Elão em 331/330, muitas princesas persas passaram a receber uma educação grega e agora elas estavam prontas para se casar com oficiais da Macedônia. Bailarinos, atores e músicos vieram da Grécia para o evento. Alexandre casou-se com Estatira, a filha mais velha do rei persa Dario III, que ostentava o título de consorte real e com a princesa Parisatis, filha do antigo rei Artaxerxes III Oco (358-338 a.C.). Assim o Macedônio cimentava sua aliança com dinastia real dos Aquemênidas. 
O casamento coletivo de Alexandre e seus oficiais em Susa na visão do artista Tom Lovell (1909-1997)
O oficialato macedônico “acompanhou” o exemplo do rei: Heféstion casou-se com Dripetis, outra filha de Dario III. Crátero casou-se com Amastris, uma sobrinha de Dario III; Pérdicas com uma filha de Atropates, o protetor da religião de Zoroastro, Ptolomeu com Artacama e Eumenes com Artonis, duas filhas do sátrapa Artabazo. Seleuco casou-se com Apame. Ela (também conhecida como Apama) era filha do sátrapa Espitamenes de Sogdiana (atual Uzbequistão). Espitamenes, que se aliara a Alexandre, mais tarde se revoltou e liderou uma feroz resistência contra os macedônios morrendo ao final (328 a.C.). Apame, porém, tornou-se concubina de Seleuco e com ele foi para a Índia. Na grande cerimônia de casamento em Susa, na primavera de 324 a.C, Seleuco casou-se formalmente com Apame. Da união tiveram Antíoco (sucessor de Seleuco), duas filhas, Laodice e Apame, e mais um filho, Aqueu. O enlace de Seleuco com Apame foi o único casamento dessa celebração que perdurou após a morte de Alexandre. Os demais foram dissolvidos uma vez que se fizeram apenas por ordem e política de Alexandre que queria unir gregos e “bárbaros” num único império. Com sua morte, foram-se os motivos para tais uniões. Seleuco deve ter amado muito Apame para permanecer com ela após a morte de Alexandre e ainda tornando-a rainha consorte quando assumiu o título de rei (305 a.C.).

Antes do Ocaso de Alexandre Magno
Seleuco é mencionado três vezes nas fontes antigas antes da morte de Alexandre. Numa viagem de barco pelo rio Eufrates, nas proximidades da Babilônia, o diadema de Alexandre caiu sobre algumas canas perto dos túmulos dos reis assírios. Seleuco nadou para buscar o diadema de volta, colocando-o sobre a sua cabeça enquanto voltava para o barco para mantê-lo seco. A historicidade desse fato é duvidosa, o qual provavelmente foi criado para mostrar Seleuco como sucessor de Alexandre. A presença de Seleuco é mencionada no banquete que Médio, o Tessálio, teria oferecido a Alexandre. Nesse banquete, segundo uma obra apócrifa atribuída a Calístenes, Alexandre teria sido envenenado e morrido no dia seguinte. Houve rumores sobre o envenenamento de Alexandre, porém associados ao regente macedônio Antípatro e seus filhos Cassandro e Iolau, que supostamente teriam motivos para matar o rei. Há um relato sobre a ida de Seleuco ao santuário do deus Sarapis, que não é o deus helenístico criado por Ptolomeu I no Egito, o que seria até anacrônico. Trata-se antes do deus babilônico Enki que também era chamado de Shar Apis, o Senhor do Abismo, um deus dos mortos, como o Hades grego. Segundo historiador Plutarco (45-120), em sua Vida de Alexandre, Seleuco e Peiton foram enviados para o santuário de Sarapis, para fazer vigília pela recuperação do rei e para perguntar se eles deveriam levar Alexandre lá, mas o deus os disse para deixá-lo onde estava. Naquele mesmo dia Alexandre morreu (11 de junho de 323 a.C.). Embora seja historicamente verossímil, parece ser um dado propagandístico para associar Seleuco a vida de Alexandre de maneira especial, já ao que tudo indica, Seleuco, embora fosse da elite militar macedônia, não tivera nenhum papel à altura de outros companheiros e generais de Alexandre que depois vieram a reivindicar partes ou todo Império Alexandrino. A relevância de Seleuco se dá nas vindouras guerras entre os Diádocos (sucessores de Alexandre) onde o pouco importante Seleuco desempenhará papel crucial.

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